quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015
terça-feira, 3 de fevereiro de 2015
Kit Roubada, você ainda vai precisar...
Pousar em uma roubada é o pesadelo de todo piloto de parapente. Mas todos estamos sujeitos a uma situação dessas. Seja por inexperiência ou por uma necessidade emergencial. Com o tempo a experiência vem e com ela o conhecimento necessário para evitar situações indesejadas, mas nunca sabemos quando seremos pegos de surpresa por uma eventualidade. Não apenas conosco, mas podemos estar diante de um colega que que caiu em uma situação dessas e nessa caso nosso preparo pode até mesmo salvar uma vida.
Para aqueles que estão começando no esporte talvez o termo não seja familiar, mas roubada é um jargão usado para descrever uma situação ruim, principalmente em relação ao pouso. Pousar em roubada é pousar em local ermo, longe de estradas, no meio do mato, sozinho sem recursos ou até mesmo pendurado em uma árvore. Mas nesse caso, não pousou, arborizou.
No caso acima, três pilotos foram forçados a pousar no meio do caminho. Um voo direto para o pouso oficial nesse morro leva cerca de 5 minutos. Os pilotos pousaram a cerca de 500 metros da estrada mais próxima e demoraram cerca de uma hora até chegar no pouso oficial. A linha azul foi o caminho a pé até o pouso oficial. Caso tivessem pousado mais tarde poderiam ter ido noite a dentro saindo do mato. Nesse caso foi tudo parte da diversão, mas e se tivesse tivesse havido uma fratura, uma arborizagem?
Em geral, caminhamos em média (média otimista) 6 km/h no asfalto, 4 km/h em trilha aberta e 1 km/h em mata fechada. Faça as contas... Acrescente travessia de rios, subida de morros, desorientação, sede, fome, insolação... Em uma mata fechada essa média pode ser bem menor... Você pode até andar em círculos e não sair do lugar.
Em geral, caminhamos em média (média otimista) 6 km/h no asfalto, 4 km/h em trilha aberta e 1 km/h em mata fechada. Faça as contas... Acrescente travessia de rios, subida de morros, desorientação, sede, fome, insolação... Em uma mata fechada essa média pode ser bem menor... Você pode até andar em círculos e não sair do lugar.
A primeira
regra é: faça seu plano de voo para
não precisar de um kit roubada. Isso quer dizer que nosso objetivo deve ser sempre
pousar em segurança em local planejado. Não importa uma boa decolagem se o voo
for ruim, não importa um bom voo se o pouso for ruim. Se algo saiu do controle
é porque algo fizemos de errado e no voo livre tudo deve ser perfeito, da
decolagem ao pouso. Seu plano deve considerar as condições climáticas, suas limitações
de nível de acordo com sua habilitação, seu equipamento, as condições
de tráfego aéreo, as restrições de
uso do espaço aéreo e demais disposições de acordo com o Regulamento
Brasileiro de Homologação Aeronáutica [RBHA104]. Invadir espaço aéreo ou pousar em área restrita poderá
gerar muitos inconvenientes além de ações civis e criminais. Planejar e
prevenir sai mais barato e causa menos dor de cabeça.
Kit Roubada
Contudo, caso o
pior aconteça, proponho que você tenha e faça uso do Kit Roubada. O kit roubada é uma relação de itens que podem ser úteis
no caso de pouso numa roubada ou em um caso de emergência. Essa relação é
individual, ou seja, cada um deve fazer a sua de acordo com seus conhecimentos,
habilidades e necessidades. Não adiantará muito você dispor de um item que não
saiba utilizar ou que lhe faça sentido. Da mesma forma, técnicas mateiras ou de
sobrevivência devem ser praticadas para se ter a mínima chance de que elas serão
úteis no momento necessário.
Vale a regra: não existe preguinho ou um voozinho
apenas... Todo voo é voo e você sempre estará sob risco de uma entorse num
pouso forte, uma arborizada ou outro evento qualquer longe do pouso oficial. Um
voo direto da rampa de uma montanha ao pouso pode durar menos de cinco minutos,
mas se ocorrer um pouso forçado no meio do caminho isso pode significar horas
no meio da mata até que você saia ou alguém te tire de lá. A primeira opção é
bem mais elegante. Assim, esteja preparado sempre! Principalmente se você
pretende se dedicar ao voo de cross. Sua probabilidade de sozinho em locais
desconhecidos é imensa e nessa hora, caso ocorra alguma emergência é necessário
ter recursos básicos ao alcance.
O kit é algo bem pessoal, Coloquei abaixo algumas coisas que carrego comigo. Funciona para mim. Eu até recomendo o uso de alguns desses itens, mas cada um deve elaborar sua lista de acordo com seus conhecimentos, habilidades, necessidades e região em que voa.
No meu caso, pensei no mínimo em termos de volume e peso. Eu separei os itens em
cinco grupos. O kit propriamente dito é composto pelos grupos de uso eventual,
de primeiros socorros e de emergência. Esses são os itens que deve ficar
acondicionados em algum local estratégico em sua selete. Os itens de uso
obrigatório e uso frequente são aqueles que poderão, se pensados par isso, lhe
proporcionar melhores possibilidades de segurança e conforto durante a prática
de nossa atividade.
2. Uso frequente - tenha-os a mão sempre
3. Uso eventual - necessários eventualmente
4. Primeiros socorros - itens e medicamentos indispensáveis
5. Emergência - itens para grandes enrascadas
G1 - Itens obrigatórios
- Rádio VHF
- Vestimenta apropriada
- Calçado apropriado
- Documentos
- Dinheiro
O rádio VHF é importantíssimo, mas precisar estar com a bateria carregada. Cultive o habito de carregar as baterias um dia antes do voo, mesmo que não tenha usado o rádio recentemente. Alguns modelos de rádio descarregam a bateria mesmo quando desligados. Faca testes com o seu. Coloque atrás do rádio uma etiqueta com as frequências usadas e as principais repetidoras da região. Tenha sempre consigo: RG, habilitação de piloto e de radioamador. Sobre o rádio, você deve portar o certificado de operador de radioamador (COER) e a licença da estação.
Seu rádio dever ser homologado pela Anatel, os fiscais verificam isso mediante o selo com o número de homologação que fica normalmente atrás do rádio.
Seu rádio dever ser homologado pela Anatel, os fiscais verificam isso mediante o selo com o número de homologação que fica normalmente atrás do rádio.
Considere a possibilidade pouso forçado em área restrita com segurança armada ou mesmo sofrer acidente e ficar desacordado. Nesses casos a rápida identificação pode ser crucial. Para qualquer caso, um pouco de dinheiro é bom.
O uso de calças e mangas compridas deve proteger do frio, do sol e de eventual pouso em área selvagem. Calças com pernas removíveis são muito práticas. O uso de botas de cano alto pode evitar entorses e facilitar o deslocamento em terrenos adversos, desde que não sejam pesadas. Cuide dos ganchos que prendem os cadarços para que não sejam um risco para as linhas do parapente. Basta cobrir com as meias antes da decolagem.
O uso de calças e mangas compridas deve proteger do frio, do sol e de eventual pouso em área selvagem. Calças com pernas removíveis são muito práticas. O uso de botas de cano alto pode evitar entorses e facilitar o deslocamento em terrenos adversos, desde que não sejam pesadas. Cuide dos ganchos que prendem os cadarços para que não sejam um risco para as linhas do parapente. Basta cobrir com as meias antes da decolagem.
G2 - Uso frequente
- Agua
- Alimentos
- Antena de ganho
- GPS
- Telefone celular
- Chapéu/boné
- Lenço/bandana
- Protetor solar
Colocar uma placa de gelo junto da agua garante agua fresca até o final do dia. Caso o pouso ocorra antes das 15 horas, chapéu/boné será uma proteção bem-vinda. Um lenço tipo buff é um item multiuso. É bastante usado por montanhistas. Mesmo com roupas adequadas precisamos protetor solar. Prefira aqueles com fator de proteção mais elevados (>= FPS 30) para maior tempo de proteção.
G3 - Uso eventual
- Baterias reserva
- Saco plástico grande
- Papel higiênico
- Fio dental
- Canivete multi função
Caso você precise de algumas horas para ser resgatado ou para fazer seu auto resgate talvez possa precisar de outros itens além daqueles do primeiro grupo. Os eletrônicos dependem das baterias e nesse caso você pode contar baterias genéricas para celular, dessas com saída USB de 5V. Também são usadas para alimentar GPS´s de voo. Já os rádios pedem baterias próprias. Eu uso e recomendo baterias tipo porta-pilhas, pois com elas você pode usar pilhas recarregáveis ou mesmo pilhas alcalinas comuns possíveis de serem adquiridas em qualquer mercadinho de beira de estrada. Além de usar com biruta em rampas selvagens é bom ter sempre papel higiênico para necessidades fisiológicas. Normalmente sentimos muito sua falta quando não o temos. Da mesma forma, fio dental não serve apenas para limpar os dentes. Imagine que se você estiver arborizado precisando recolher uma corda para ser descido, ele pode ser usado para “pescar” essa corda. É forte, não ocupa espaço e uma caixinha contém de 100 a 200 metros! Um grande saco plástico pode servir para acomodar seu equipamento em caso de chuva. Quanto ao canivete, no meu caso ele não sai do bolso ou da pochete, mas se tê-lo por porto é o que importa. Tenho e recomendo o Victorinox que é caro, mas de qualidade certa. Prefira algum modelo com tesoura e alicate.
G4 - Primeiros socorros
- Comprimido para dor
- Antisséptico anestésico
- Pomada – entorses
- Repelente de insetos
- Pomada antialérgica
- Ataduras/faixa
Não é necessário pousar numa roupada para precisar de um socorro de saúde. Cortes, queimaduras, arranhões, entorses, contusões, dores musculares, dor de cabeça, estão entre os eventos mais comuns em atividades ao ar livre. Se você estiver familiarizado com o uso de certos medicamentos poderá usá-los quando necessário. Caso contrário, não use nada. Um remédio mal usado pode piorar sua situação. Caso tenha alguma necessidade especial, inclua na lista. Da mesma forma, exclua aqueles que eventualmente possam lhe causar algum problema, como alergia, por exemplo.
De um modo geral, dores podem ser atenuadas com Dorflex, ou paracetamol, de acordo com a natureza da dor. Cortes, queimaduras e arranhões pedem um antisséptico para limpeza da área afetada e nesse caso, prefira um antisséptico spray com analgésico, pois alguns machucados como queimaduras de linhas podem doer um bocado. Um pé torcido pode dificultar sua caminhada até a estrada ou até a cidade mais próxima. É bom estabilizar o pé com ataduras ou faixas. Nesse caso, uma pomada como calminex, gelol, arnica ou similares alivia a dor. Se estiver usando botas de cano alto, melhor. Nesse caso a chance de entorse é até menor.
Picadas de insetos podem incomodar muito nos meses de verão ou caso seja necessário pernoitar no mato. Em certos locais e épocas do ano, repelentes de insetos vale ouro. Se necessário, pode ser acondicionado em frascos menores para ocupar menos volume no kit. Há no mercado repelentes que prometem 10 horas de proteção.
De qualquer modo, essa é uma lista bem pequena que dever ser adequada a cada local e a cada piloto. É importante que você saiba para que serve cada medicamente, ou estará levando peso à toa. Estar familiarizado com primeiros socorros também é uma boa ideia, pois eventualmente colegas podem precisar de nossa ajuda. Assim como os alimentos os remédios também tem prazo de validade.
G5 - Emergência
- Barraca de emergência/cobertor de emergência
- Isqueiro
- Purificador de agua
- Serra de bolso - cabo de aço
- Apito
- Cordelete/paracord – 10m
- Rede de descanso
- Lanterna/pilhas reserva
- Spray de gengibre
Aqui é quando o bicho pegou. Se você voa em regiões de montanha e mata fechada corre o risco de arborizar e ficar pendurado a uma grande altura, ter necessidade de pernoite na mata, não ter agua de procedência confiável e eventualmente de demorar muitas horas até sair da roubada. Caso tenha se machucado e não possa se mexer muito, um simples apito poderá ajudar outros a te localizar. Esse item é comum nas seletes importadas, normalmente junto ao conector peitoral. Portar um facão seria útil, mas o risco de uma queda e acidente são grandes demais para se carregar essa ferramenta na selete. Assim, para o caso de corte de galhos ou troncos finos uma serra de bolso resolve, as mais leves são as flexíveis de cabo de aço, mas há também aquelas feias de material mais resistente, similares às de serras elétricas. Para outros vire-se mesmo com um bom canivete. Não descarto o uso de uma boa faca, mas leve em consideração o peso e o volume. Em casos extremos, se for o caso de passar a noite na mata, abrigue-se. Você poderá usar a mochila com uma espécie de saco de dormir e poderá improvisar uma cobertura com uma barraca de emergência, ou cobertor de emergência, desses feitos de plástico aluminizado. Custa barato e pesa menos de 200 gr. Poderá usar sua vela, o saco origami e o saco de roubada para improvisar proteção. Improvise, mas não deixe de se proteger do frio e da umidade. Não se esqueça que a umidade vem de cima e de baixo também. Uma rede de descanso pode ser uma boa pedida já que te tira de perto do chão e dos animais rasteiros que costumam estar ativos à noite. Esse é outro item que pesa pouco, não custa muito e tem um tamanho bem compacto. Eu tenho uma rede que com algumas adaptações me serve de saco de roubada.
Em caso de pernoite, acenda uma fogueira, tanto para afastar os mosquitos quanto para dar um pouco de conforto e sinalizar. Se está familiarizado com isso, não terá problemas, um isqueiro já te resolve, mas se não tem familiaridade como fogo, pratique. Fazer fogo é uma arte. Uma pederneira é mais segura quanto ao dano por umidade, mas um isqueiro é mais prático. Proteja-o em um saco plástico bem vedado.
Será essencial ter uma lanterna, prefira lanternas de LED e se possível uma lanterna de cabeça. Além das pilhas pré instaladas (cuidado com vazamentos), tenha pilhas alcalinas reserva. Em um caso de emergência será útil ter em mãos as frequências das repetidoras de radioamador da região. Você poderá ter socorro emergencial, ponte com corpo de bombeiros ou outras autoridades ou você poderá ganhar um simples resgate e um amigo.
Jamais beba água de procedência desconhecida. A chance de contaminação sempre existe e pode te causar complicações sérias. Um simples comprimido de purificador de agua te dá segurança. Ter de seis a dez metros de cordelete ou paracord de mais ou 4mm ou 6 mm pode ser útil para diversos fins, desde a descida de um local elevado até a construção de abrigo.
Fonte: ANL Brasil |
Foto: /www.flyingmax.com/category/flying-event/ |
Vestimentas
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Botas
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Calça
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Camiseta manga comprida
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Chapéu/boné
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Lenço/buff/bandana
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Docs
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RG
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Carteira de piloto/Federação
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Certificado de operador de
radioamador – COER
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Licença da estação
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Habilitação de piloto
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Dinheiro
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Eletrônicos
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Rádio VHF
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Antena de ganho
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Baterias reservas
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Telefone celular
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GPS
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Lanterna/pilhas reserva
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Alimentos
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Camelback
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Alimentos
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Diversos
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Saco plástico grande
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Papel higiênico
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Fio dental
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Canivete multi função
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Barraca de emergência/cobertor de emergência
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Isqueiro
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Serra de bolso - cabo de aço
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Apito
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Cordelete/paracord – 10m
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Rede de descanso
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PS
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Comprimido para dor
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Antisséptico anestésico
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Pomada – entorses
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Repelente de insetos
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Pomada antialérgica
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Ataduras/faixa
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Protetor solar
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Purificador de água
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Spray de gengibre
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Obs.: Agradeço a leitura crítica e sugestões de Hugo CB e Adriano Pardal
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